Aulas da Primavera | III Edição (2012)
O Elab promove, entre 27 de Abril e 15 de Junho de 2012, o curso livre Aulas da Primavera, a terceira edição e desta vez dedicada às «imagens»: 8 Lições sobre vários diálogos da literatura com a imagem (no cinema, na fotografia, na pintura e ao nível da visualidade manuscrita e tipográfica), bem como sobre a própria possibilidade da leitura iconográfica.
Mais informações:
27 de Abril: ENTRE ANACRONIA E TRANS-MEMÓRIA. APONTAMENTOS EM TORNO DE UM DIÁLOGO ENTRE A PALAVRA E A IMAGEM
Mário Avelar (Universidade Aberta)
Como os conceitos de anacronia (George Didi-Huberman, Devant le temps [2000]) e de trans-memória (Vítor Serrão, A Trans-Memória das Imagens - Estudos Iconológicos de Pintura Portuguesa, séculos XVI-XVIII [2007]) se revelam operatórios para uma leitura do diálogo entre a palavra e a imagem em tempos de emergência de novos registos miméticos e/ou representativos quer no plano visual quer no verbal.
4 de Maio: “LER” IMAGENS
Joana Cunha Leal (Universidade Nova de Lisboa)
Esta sessão visa analisar questões implicadas na expressão “ler uma imagem”. A ideia de que o visível é legível é um pressuposto fundamental de disciplinas como a história da arte e da fotografia. Estes campos operam sob a condição de traduzir em palavras aquilo que é, em primeira instância, da ordem do visível. Será que uma pintura ou uma fotografia configuram uma linguagem articulada como discurso que possa ser efectivamente lido? Vários autores vêm trabalhando este campo de fronteira e espaços comuns entre o visível e o legível. Seguiremos nesta sessão os contributos de E. Panofsky, L. Marin e M. Bal.
11 de Maio: RECONSTRUIR A PINTURA: CONTRA CARAVAGGIO, COM UM EXCURSO SOBRE A DECORAÇÃO DE LAREIRAS
João R. Figueiredo (Universidade de Lisboa)
Poussin escreveu famosamente que Caravaggio “viera ao mundo para destruir a pintura”. Através da análise detalhada de alguns quadros de Rubens e de Guido Reni, veremos como estes dois pintores terão partilhado um sentimento análogo ao de Poussin, inferível a partir de um animus anti-caravaggesco (não destituído de ambiguidade) presente nas suas obras e de uma revitalização da comparação entre pintura e escultura que associa a maneira de Caravaggio à segunda.
18 de Maio: O GESTO (CALI)GRÁFICO DE HENRI MICHAUX, ANA HATHERLY e UXIO NOVONEYRA. IMAGEM RETINIANA, IMAGEM MENTAL, EXPRESSIVIDADE E (IN)INTELIGIBILIDADE POÉTICAS.
Carlos Paulo Martinez (Universidade da Corunha)
Trata-se de examinar e (re)avaliar a escrita (cali)gráfico-gestual de Henri Michaux, Ana Hatherly e Uxío Novoneyra – relevante plástica e poeticamente, enquanto, com independência da sua ascendência oriental e/ou ocidental, foi produzida, no nobilitador sentido rimbaudiano, com a main à la plume que pensa. Com esta finalidade, por um lado, atenta-se à exposição dos pressupostos e atitudes basilares, convergentes e divergentes, que alicerçam a sua dilatada e vária escrita poético-pictural e, por outro lado, procede-se, no espaço de sombra transitivo entre palavra e imagem – cultivado com differentia specifica por estes três autores de dupla e diversificada obediência plástico-literária –, tanto ao comentário explicativo como à análise crítica de alguns dos seus textos-imagens paradigmáticos.
25 de Maio: COM PALAVRAS E IMAGENS.
Fernando Cabral Martins (Universidade Nova de Lisboa)
Modos do encontro de palavras e imagens na obra de Almada Negreiros (o desenho-poema, o mural-romance), Mário Cesariny (as autografias), Al Berto (e a fotografia de Paulo Nozolino), João César Monteiro (Passeio com Johnny Guitar).
1 de Junho: TEXTOS CONSTELADOS E PERCURSOS ALEATÓRIOS: A VISUALIDADE NA POESIA E NA NARRATIVA.
Manuel Portela (Universidade de Coimbra)
A disposição gráfica dos elementos no plano da página ou no plano do ecrã é um recurso expressivo usado em muitos textos literários. Através de exemplos desses usos expressivos (em poemas e romances) procurarei mostrar algumas funções da espacialização tipográfica. A construção de percursos entre signos constelados mostra a produtividade específica dos atos leitura como coinstanciadores da legibilidade dos seus objetos.
8 de Junho: TEXTO E IMAGEM: FIGURAÇÃO E SUPRESSÃO DA ESCRITA NO CINEMA.
Clara Rowland (Universidade de Lisboa)
A lição terá como ponto de partida a representação temática da escrita no cinema, interrogando, através de três figuras (a carta, o argumento, o manuscrito), algumas das implicações teóricas da figuração fílmica do processo, da circulação, da materialidade e dos efeitos da escrita. Pretende-se identificar pontos de tensão entre meios de representação que permitam pensar não só a relação entre literatura e cinema, mas também a encenação reflexiva dessa relação.
15 de Junho: A IMAGEM CANSADA. POESIA E CINEMA NOSANOS 20, EM FRANÇA.
Fernando Guerreiro (Universidade de Lisboa)
Arte "inesperada" e "totalmente nova" (Epstein), o Cinema, na década de 20 do século passado, surge como lugar privilegiado de trabalho e reflexão formal dos "modernistas" - nos termos de Henri Langlois, um "laboratório experimental" de formas (cinematográficas ou outras). Já Guillaume Apollinaire, na sua conferência de Novembro de 1917, L'Esprit Nouveau et les poètes, escrevia que os poetas desse tempo, estraçalhado pela nova tecnologia da guerra (leiam-se os seus Caligra-mas ou as prosas de Cendrars), queriam ser os primeiros "à fournir un lyrisme tout neuf à ces nouveaux moyens d'expression qui ajoutent à l'art le mouvement", "le phonographe et le cinéma". Se, por um lado, a crise da(s) arte(s) e da civilização (europeia e ocidental) fortalecia a ideia do "esgotamento" das fórmulas até então utilizadas - criando condições, como refere Walter Benjamin, para que a "técnica" se afirmasse como o factor novo de transformações estéticas -, por outro lado, a "fadiga" e o "nervosismo", enquanto "factores de civilização" ("état nouveau de l'intelligence" (Epstein)), traziam em si a "promessa" monstruosa (e por vezes, in-humana) tanto de um sujeito em crise permeável às mutações metabólicas da atmosfera, como de um novo registo estético e de outro tipo de Imagem - aquilo que Jean Epstein, em La Poésie d'aujourd'hui : un nouvel état d'intelligence (1921), designa por "la <médullarité> et la frénesie sensuelle des lettres modernes". Um projecto po(i)ético que questionava a própria ideia de Literatura.
Estudantes de literatura, investigadores, professores do Ensino Secundário e público em geral.
Curso Livre / Acção de Formação CCPFC/ACC-62430/10 (1.3 Créditos)
Gerais: todas as sessões – 75 € / cada sessão – 10 €
Estudantes da FCSH: todas as sessões – 20 € / cada sessão – 5 €
18.30h, Auditório 2, Torre B, FCSH.