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O ensino da literatura nas universidades portuguesas: história e nova proposta

A primeira ideia chave do projecto é que não é possível continuar a estudar e a ensinar no domínio dos Estudos Literários sem ter em conta as condições institucionais desse estudo e desse ensino. Estudar e ensinar, em Literatura, são hoje actividades que carecem de legitimação como não careciam no século passado, problema mais premente quando falamos de ensino superior público, suportado pelo Estado e portanto sujeito à validação do sentido de utilização de dinheiros públicos. Ao mesmo tempo, as transformações das sociedades ocidentais sem dúvida tornam o estudo das Humanidades menos cativante para os jovens, desde logo em virtude de representações sociais de sucesso medido em salários e regalias.

Este cenário, que geralmente se qualifica com a palavra “crise”, coloca aos universitários de todo o mundo o problema da continuidade e do sentido do ensino das Humanidades e da literatura em particular; e coloca-lhes, no plano da intervenção institucional, o problema dos meios de natureza material e organizativa para enfrentar essa “crise”. Assim, surgem problemas de dois tipos:

a) O da ligação profunda e histórica entre a noção de Literatura e o ensino universitário da Literatura, que conduz ao problema da relação entre a ideia moderna de Universidade e a Literatura;

b) O da estruturação de programas de estudos que, preservando a natureza das disciplinas e a natureza do ensino universitário, ofereçam possibilidades de formação e inovação, sendo ao mesmo tempo apelativos, capazes de atraírem inteligências jovens e assim se renovarem.

Qualquer dos dois tipos de problemas tem merecido abundante reflexão nos últimos anos, e é imensa a bibliografia sobretudo do primeiro problema. O que em regra não acontece é a articulação dos dois tipos de problemas numa mesma proposta, ou seja, não se encara como missão de um projecto de investigação na área dos estudos literários promover uma reorganização dos curricula. A reforma dos curricula é atribuída aos organismos, governamentais ou universitários, sem se fundamentar na história e na natureza das disciplinas envolvidas. A consequência maior é que a reforma dos estudos universitários de literatura fica dependente de circunstâncias, demasiado presa aos recursos existentes e demasiado afastada por isso do trabalho de invenção e imaginação necessário para promover uma organização realmente nova.

Neste sentido, este projecto é um exercício de liberdade académica. Quaisquer que sejam as circunstâncias, os recursos e as condições, é possível inventar um novo programa de estudos literários, de graduação e pós-graduação, capaz de realizar a tarefa histórica de transmissão do património literária e linguístico e ao mesmo tempo promover a imaginação, a criatividade e a inovação. Trata-se por isso de investigação universitária no mais nobre sentido: mobilizar os recursos de investigação na área e conduzir o estudo para a definição das melhores condições para a sua continuidade e renovação.

 

Coordenação:

Abel Barros Baptista

 

Equipa:

Alcir Pécora, Ana Barros, Clara Rowland, Emília Almeida, Fernando Clara, Luís Prista, Osvaldo M. Silvestre, Roberto Vecchi, Teresa Almeida.

 

Consultor:

Kenneth-David Jackson (Yale University)

 

Projecto financiado pela FCT (Ref.ª PTDC/CLE-LLI/112619/2009)

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